quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

De volta ao centro do universo em vídeo 5'









Nosso sistema de lentes centra foco, desta vez, no Programa 2 da Mostra Competitiva do 5 Minutos. Repetindo o extrato do Programa 1, o gênero documentário reaparece em profusão.No universo de 12 vídeos, 4 se enquadram na tipologia.Seguem linhas em forma de um espelho côncavo. A refração pode ser constatada com mais uma série de notas críticas. Antes, a gente vai levantar a mão e apontar os melhores vídeos da sessão.(Por: Zatar Bassan)




MELHORES VÍDEOS – PROGRAMA 2 – 12/12



Abaixo, uma lista que lança o que chamamos de “Uma mão pra comissão julgadora”. Os vídeos foram escolhidos a dedo:

- Polegar: “Desgovernados” (Daniel Sandes/Vitória-ES)

- Indicador: “L.E. R” (João Angelini - Brasília/DF)

- Médio: “Desmandamento do cinema” (Zezão Castro/BA)

- Anular: “Casa de Máquinas” (Maria Leite e Daniel Herthel/MG

- Mindinho: “Essa moça” (Adriana Mota - Brasília/DF)

NOTAS SOBRE O PROGRAMA 2 – MOSTRA COMPETITIVA – 12/12

CARRO DE BOI (Documentário)
Nicolas Hallet 4:15 2007 Salvador-BA

O documentário registra mais um nordeste árido. À primeira vista, a imagem de um carro de boi, em plano geral,perpassando o quadro, é insinuante.Um teaser de efeito em pleno interior de Alagoas.O registro da rotina no campo, com o corte do mandacaru,também, reforça o interstício.Já o paralelismo de intercambiar o labor dos pais às brincadeiras dos filhos soa um determinismo ressabiado. Essa analogia denuncia bem o “acordo” da direção com o sertanejo, objeto da obra. Em outros termos, percebe-se o desconcerto de um curta que, sem sequer dar nomes aos bois (os sertanejos?), animaliza o indivíduo. Fade in.”Abril Despedaçado”(Walter Salles) foi diferente.”Kenoma”(Eliane Caffé) também.”Vidas Secas”(Nelson Pereira dos Santos) então...

CASA DE MÁQUINAS (Animação)
Maria Leite e Daniel Herthel 5:00 2007 Belo Horizonte-MG

Aqui, temos a virtualização do moto-perpétuo, apresentado como um objeto autômato. Nada novo em vídeo, não fosse pela força da linguagem de animação. O curta, uma produção anglo-brasileira, expõe uma máquina em funcionamento ininterrupto e com expressiva complexidade. ”Casa de máquinas”,praticamente,endossa a versatilidade do traço animado,ao criar o que a ciência constitui como improvável. Com realismo, na pureza das imagens, os mineiros Maria Leite e Daniel Herthel assinam uma direção de um vídeo-máquina. Afinal, até mesmo, nos créditos, encanta o público,expondo o pré-projeto da obra(o story board).Justificável, para um curta que se reveste cúmplice do imaginário humano.

CHAPADA VELHA (Documentário)
Fabrício Rodrigues 5:00 2007 Salvador-BA

“Chapada Velha” acentua, já na sua sinopse, um alinhamento com o princípio da retratação de personagens anônimos e de fácil carisma. Está feito o contrato com a recepção: “a história é somente pano de fundo para o deleite do espectador sobre o carisma dos personagens”. Um aparelho em que nem os personagens ganham crédito no corpo da narrativa.Assim, a fotografia vai se apreender de closes, primeiríssimos planos, detalhes dos ambientes e dos seus sujeitos.A operação estética tenta se impor como um registro do perfil dos antigos coronéis da Chapada Diamantina.Daí recorrre-se aos nativos em busca de dados.O problema é a ambigüidade deste tipo de curta: ao invés de se compor um quadro de significações audiovisuais, constitui-se uma “domesticação da obra”: o olhar de sofrimento pra gerar emoção;o galope no jegue pra fazer rir.Silêncio.

CINEMA VELHO (Documentário)
Lucas Fróes 4:55 2007 Salvador-BA

O documentário faz de um antigo cartazista de cinema um narrador apaixonado. Trata-se de Renato Fróes.Cercado por anúncios de filmes antigos,ilustrados à mão, o entrevistado acena sua memorabilia,diante de uma câmera que traduz seus depoimentos com sua própria obra.Uma aula de história sobre o marketing promocional em tempos passados.Ao reportar-se a antigas salas de projeção,na Bahia, como Santo Antonio,Glória,Liceu,Popular e Jandaia, Fróes emociona.Vale como registro e não como experimentação de linguagem.Em “Cinema Velho”, o velho é o discurso audiovisual.

CONSTRUINDO O MAR (Ficção)
Marcio Cavalcante 5:00 2007 Salvador-BA

Um garoto cego, do interior da Bahia, deseja conhecer o mar. Entusiasta, seu pai o conduz ao litoral. A criança vislumbra um paraíso, já destruído pelo real. Mas o pai,lacrimoso,começa a fantasiar.Daí,com uma fotografia que contrapõe a degradação ambiental com cenas de uma praia paradisíaca,deparamo-nos com um vídeo... ecológico. Com menos lágrimas na narrativa,trilha emotiva,exposição de planos detalhe forçosos, o significado teria sido outro: ruptura com a tradição narrativa tão em onda.

DESGOVERNADOS (Ficção)
Daniel Sandes 3:12 2006 Vitória-ES

“Desgovernados” encontra uma forma de fazer panfletagem sem ser panfletário. Uma empresária busca um contato com a prefeitura da cidade.No lugar dos funcionários oficiais, quem atende ao telefonema são feirantes.Linha cruzada?Número errado?Não. Apenas, a densidade dramática de um enredo que subverte a relação povo/parlamento, com engenhoso humor. O efeito político se afirma e ganha forte valor estético. Resultado:ovacionado pela platéia.

DESMANDAMENTO DO CINEMA (Documentário)
Zezão Castro 5:00 2007 Salvador-BA

“A quem pertence a teoria de cinema?”. A indagação é do lendário cineasta Zé do Caixão,objeto deste vídeo que se propõe a desconstruir a sétima arte.Nosso Coffin Joe relata experiências em sets,problemas com casting,enfim, o seu método de filmar.Tudo envolto numa fotografia que,tão raro, o distingue.As imagens aparecem com um filtro que beira à plasticidade das obras de Mojica. A edição, também, reforça essa mimese. ”Já fiz tudo de cinema”,arremata o cineasta. E o vídeo fez tudo, para reinventar princípios de cinema em afinidade com um professor autodidata. Ganhou muitos pixels.


ENSAIO SOBRE O MURO (Experimental)
Castor Assunção Tavares 4:42 2007 Uberlândia-MG

“Ensaio sobre o muro” é uma experimentação imagética, apresentada sobre 4 perspectivas. Em intervalos, tomam a tela episódios com os seguintes títulos: “Sobre a inércia”; Sobre a curiosidade; Sobre o perigo”; Sobre a possibilidade.As cartelas evidenciam situações de uma personagem e seus fatores condicionantes.Porém,o curta deixa lacunas não preenchidas pela narrativa e, in loco, pelo espectador.Até o momento, o vídeo,ao extremo, foi o menos aplaudido do festival.

ESSA MOÇA (Animação)
Adriana Mota 3:42 2007 Brasília-DF

A animação nos apresenta Luiza e sua gatinha. É noite.Céu de estrelas.Até que sobe o BG e acompanhamos Luiza,dançando o xote “Até o dia clarear” com um homem galanteador. Um videoclipe? Não. A constatação de que é possível emocionar com um flerte regional e animado.Massinha!

EXÚ (Videoclipe)
Giuliano Scandiuzzi 4:50 2007 São Paulo-S

O curta, na verdade, é um videoclipe que segue pelas encruzilhadas de São Paulo, em companhia de Exu. Um homem negro, com paletó branco, gravata vermelha e chapéu de palha, com faixa rubra, personifica o orixá “protetor dos caminhos”. Sob uma câmera em traveling, em 360º, em big-closes,plongée, somos levados às ruas,com o refrão: “Exu é luz”.Ou seja:a pista que justifica a fotografia em fortes tons de amarelo e luzes estouradas,além da computação gráfica com referência às simbologias de Exu.Não fosse o didatismo das imagens, teríamos um exu-cyborg,diante de uma trilha bit.

GISELLE (Experimental)
Celina Portella e Elisa Pessoa 4:01 2006 RIO DE JANEIRO-RJ

“Giselle” traz uma bailarina em trânsito pela cidade. Sua dança está na observação urbana, com imagens granuladas, quase como um arquivo. Aos olhos de um pipoqueiro,a moça é o próprio corpo de uma cidade sem identidade.Na tentativa de trazer a não-linearidade, para melhor articular os contornos das imagens, o curta esqueceu o sal da edição.

L.E.R. (Experimental)
João Angelini 3:38 2007 Planaltina-DF

“L.E. R” traz um funcionário em sua prática diária de carimbar documentos. Tudo muito modorrento, não fosse a transmutação das imagens. Angelini torna o personagem um homem-máquina.Seu trabalho,explicitamente, marcado pela L.E.R(Lesão por esforços repetitivos), deixa-o como um organismo mecânico.Seus braços se movimentam como ferramentas.Sua face treme tal qual um motor. Um cenário branco emoldura a seqüência, com uma pequena mesa e uma cadeira. O que faz da tela um outro suporte: o papel em branco. Desde já, um dos melhores curtas da sessão, a obra é uma experimentação com timing publicitário, mas nem por isso comum. Um belo frame da direção de arte: o figurino do personagem se associa com o móvel do escritório. Carimbo para “L.E.R”: “aprovado”.

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